Guilherme Bergamini
Beiradão: a margem do Projeto Jari
(2007)

O Laranjal do Jari foi criado pela Lei Federal nº7.639, de 17 de dezembro de 1978, em consequência do projeto do bilionário norte americano Daniel Ludwig que construiu um pólo agroindustrial em plena floresta Amazônica. No período da  ditadura miliar, Ludwig obteve a posse de mais de um milhão e seiscentos mil hectares de floresta nativa, desmatando e implantando a gmelina arborea, pinus caribea e o eucalipto, árvores não nativas, com a finalidade para produção e exportação de celulose.

Este amontoado de palafitas denominado Beiradão cresceu de forma desordenada.

O local recebeu uma excessiva demanda de mão-de-obra de trabalhadores em busca de emprego fixo, muitos deles sem condições de retornar às suas cidades de origem. A pequena vila tornou-se uma das maiores favelas de palafita do Brasil.

A maior parte dos moradores vivem em  condições degradantes, sem nenhum tipo de assistência, seguridade e saneamento básico. 

O Laranjal do Jari está localizado ao Sul do Estado do Amapá, a 320 km da capital Macapá. Limita-se com os municípios: Oiapoque, Pedra Branca do Amapari, Mazagão e Vitória do Jari, e com o Estado do Pará, na outra margem do Rio Jari,  onde localiza-se a Cidade de Monte Dourado, moradia dos funcionários de maior poder aquisitivo da fábrica de celulose.

O ambicioso Projeto Jari fracassa na década de 80 deixando a maior parte de seus prejuízos ao erário público brasileiro.

A região que hoje corresponde ao Laranjal do Jari foi habitada, primeiramente por indígenas Oiampis e Aparaís e, mais tarde por nordestinos que vieram trabalhar na extração da borracha. Dentre essa leva de nordestinos destacou-se um cearense chamado coronel José Júlio de Andrade que teve poder de vida e morte na região; aos 35 anos de idade se consolidou como o maior latifundiário do mundo, adquirindo cerca de 3,5 milhões de hectares de terras por meios lícitos e ilícitos através de expropriação e oportunismo na sua condição de deputado estadual e senador pelo Estado do Pará. Combatido pela revolta tenentista que o obrigou a vender suas terras para um grupo de empresários portugueses em 1948 e mais tarde vendida para Daniel Ludwig.