Guilherme Bergamini

Contrações
(2015)

Do dia 19 de junho a 10 de julho de 2015, fui aos Correios para enviar um cartão postal para a Malu — um diálogo simples e infantil para oficializar e materializar esse momento. Em uma caixa de papelão, estão guardadas as principais revistas e jornais do dia 29 de junho, junto com os cartões postais que serão entregues a ela no dia 29 de junho de 2025, às 8h35 da manhã, quando fará 10 anos.
Malu nasceu em casa, depois de 30 horas de contração — uma força e resistência indescritíveis da mãe, Flávia Amaral.
Tive o privilégio de vivenciar esse momento mais primitivo do ser humano, que é o ato de parir no próprio lar — uma experiência maravilhosa e indescritível.
Acompanhando e dando apoio durante toda a gestação, me deparei com uma realidade trágica e assustadora:
No Brasil, 85% dos partos são cesarianas e apenas 15% são partos normais — o inverso do que recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A cultura da cesariana visando o lucro dilacera a vontade da mulher de parir da forma que desejar.
A violência obstétrica está na mentira, em ludibriar a mulher em um momento tão frágil, no tratamento desumanizado.
Falta fiscalização, investigação e punição para esses crimes, que ocorrem todos os dias nos lares e hospitais deste país.