Alerta direcional (2025)
Segundo o Código de Posturas do Município de Belo Horizonte, cabe ao proprietário do imóvel a responsabilidade pela construção, conservação e manutenção do passeio (calçada) em frente à sua propriedade.
Entre os elementos previstos para garantir a acessibilidade urbana, destacam-se os pisos táteis, criados para orientar pessoas com deficiência visual ou baixa visão. Esses pisos se dividem em dois tipos: o direcional, que indica o caminho a ser seguido, e o de alerta, que sinaliza obstáculos e mudanças no percurso. Ambos se reconhecem pelo contraste de cor e textura, possibilitando sua identificação por meio do toque.
Alerta Direcional nasce do meu cotidiano de caminhante.
Há mais de quatro anos, percorro as ruas de Belo Horizonte registrando calçadas que, por sua condição, sinalização ou abandono, me chamam atenção. Instintivamente, passei a prestar atenção aos pisos táteis, talvez tentando perceber a experiência de outros transeuntes, que se orientam de forma diversa da minha em ruas já tão conhecidas por mim. Acabei percebendo que aqueles que deveriam ser dispositivos de orientação, muitas vezes se transformam em instrumentos de desorientação.
Esta coletânea reúne imagens que mostram o quanto a cidade ainda não está comprometida em garantir a acessibilidade plena. Muitas calçadas sequer foram adaptadas; outras, mesmo com pisos instalados, apresentam falhas graves de execução, má conservação ou ausência total de seriedade na sua instalação. Há trechos onde os pisos indicam caminhos para o nada, apontam em direções impossíveis ou terminam abruptamente diante de obstáculos.
As fotografias expõem também o contraste entre a intenção e a realidade urbana. Em alguns pontos, os pisos estão bem conservados, mas mal posicionados; em outros, completamente deteriorados. Esses registros convidam o público a perceber o que, para muitos, passa despercebido — mas que, para quem depende da sinalização tátil, pode significar o limite entre o direito de circular com autonomia ou a vivência cotidiana da exclusão.
Uma cidade acessível não se constrói apenas com normas, mas com compromissos efetivos. Adaptar as calçadas é uma obrigação do poder público, sim, mas também deve envolver a sociedade. Destinar recursos, garantir fiscalização e conscientizar os cidadãos sobre o direito de ir e vir são passos fundamentais para que o espaço urbano inclua em vez de excluir.
Alerta Direcional é, portanto, um convite à reflexão — e também à ação. Que estas imagens façam ver o que tantos não veem.
Isis Castro – Historiadora