Guilherme Bergamini

Marcados
(2013)

A marcação de escravos era um mecanismo de controle cruel. Havia base jurídica para justificar, tornando legítimo a marcação com ferro quente, que vigorou no Brasil desde o ano de 1603. Os jornais da época traziam uma seção intitulada “Escravos fugidos”, em que descreviam o sujeito capturado e as iniciais:

“Acha-se acourado nesta cidade o escravo pardo de nome Adão de 29 anos de idade, pertencente ao fazendeiro abaixo assinado. É alto, magro, tem bons dentes e alguns sinais de castigos nas costas, com a marca S.P. nas nádegas. É muito falador e tem por costume gabar muito a Província da Bahia de onde é filho. Quem o prender e levar à casa de correção será gratificado com a quantia de 200$000”.

Os escravos fujões ou aqueles que se rebelavam com frequência podiam receber uma nova marca, às vezes na testa, para tornar pública a insubordinação. Os “carimbos” podiam variar de acordo com o gosto do comprador. Alguns preferiam na coxa, outros no braços, no ventre, no peito e até no rosto. Os escravos e os animais eram tratados sem distinção, alguns eram “ferrados” ainda em sua terra-natal, antes mesmo de seu embarque para o Brasil.
Nem as crianças foram poupadas dessa crueldade.